O CANÁRIO COMO ANIMAL
DOMÉSTICO
Revista Pássaros Ano 7-nro 33/2002
III Expocop-Paranavaí
Arquivo editado em 25 Maio 2003
Nenhum animal doméstico foi criado pela própria
natureza. Foi o homem que, no seu percurso histórico, retirou da
natureza certas espécies de animais para as usar para os seus fins,
multiplicando-as e reproduzindo-as sob a sua tutela.
Em tempos remotos, em plena Idade da Pedra, há
mais de 20.000 anos, o homem primitivo começou a evoluir, passando
de uma existência errante de caçador para a de camponês
sedentário. Instalou-se, aprendeu a cultivar o solo e a criar gado,
Em várias partes do mundo, o homem partilhava a sua casa com vacas
e ovelhas, cabras e cães e outros animais. O canário é
um animal doméstico de origem bastante recente.
As raças domésticas sempre se desenvolveram
em regiões delimitadas, seguindo objetivos de criação
impostos pela vontade do criador e que, mais tarde, foram sujeitos a especificações
determinadas, Contudo, fatores como o clima e a alimentação,
influenciaram igualmente a evolução, em especial a das espécies
herbívoras, conhecidas por animais de pasto.
OS canários, como a maior parte das aves, não
são animais de produção, na acepção
comum desta palavra.
O conhecido autor de literaturas animais, Edmund Alfred
Brehm, escreveu em meados do século XIX: “Na realidade, para o homem,
os animais produtivos são os quadrúpedes. Contundo, os bípedes
referindo-se aos pássaros são, para ele, os animais que proporcionam
prazer”.
A razão está do seu lado, pois os pássaros
são seres fascinantes e estimulantes que desafiam a fantasia, o
espírito e o sentido artístico do homem.
Em todas as culturas e em todos os continentes, as aves
pertencem, ao grupo de seres preferidos do homem: As razões para
esta afirmação são a sua capacidade de voar, a sua
presença irrequieta e alegre, o esplendor: das formas e das cores,
bem como, o canto melodioso. Não há outro som na natureza
que tanto nos sensibilize como a melodia dos pássaros.
A primavera e as vozes dos pássaros são
inseparáveis.
Não é de admirar, então, que tronco
da Biologia (Ciências Naturais) a Ornitologia (Ciência que
estuda as aves) seja o ramo que capta mais estudiosos. Já nos séculos
XVIII e XIX o canário era considerado uma criatura sublime e cheia
de vida que ainda recitava uma melodia variada e agradável ao ouvido.
Conquistou firmes entusiastas por todo o mundo, entre os quais, como é
óbvio, alguns também se tornaram criadores. Já no
século XVII o canário-rouxinol, proveniente do Tirol, era
muito conhecido. Os lucros obtidos com a venda desta ave devem ter condicionado
esta expressão mais do que as capacidades melódicas ornitologicamente
justificáveis.
Donde provém o canario silvestre?
Como todos os animais domésticos, também
o canário provém de uma espécie ancestral que vivia
em liberdade, e a partir da qual evoluíram todas as raças
existentes. Trata-se de um pequeno tentilhão verde que vive nas
Ilhas Canárias: o canário silvestre cujo nome científico
é serinus c. canária, Linné.
As Ilhas do Atlântico com a sua “eterna Primavera”,
que hoje em dia se tornaram num dos alvos turísticos preferidos
dos europeus, foi desde cedo atribuída a expressão “Ilhas
Afortunadas”, devido ao seu clima temperado.
O canário silvestre também habita nos Açores
e na Madeira. A primeira descrição exaustiva desta ave foi
fornecida por K. Bolle, após uma viagem no ano de 1858, uma data
bastante tardia, uma vez que estes pássaros já eram domesticados
pelo homem desde a segunda metade do século XV. O viajante moderno
não consegue imaginar os trabalhos e a aventura de uma viagem de
investigação naquela época, em que ainda não
existiam aviões, nem barcos a vapor. As viagens nas caravelas eram
longas, incertas e perigosas.
O canário silvestre é parecido com os canários
verdes, atuais. Apenas a forma é mais delgada, dirse-ia mesmo mais
elegante. Vive como o chamariz (serinus serinus), ao qual os holandeses
chamam canário europeu, e com o qual também é aparentado.
Durante algum tempo pensou-se que ambos os pássaros pertenciam a
uma só espécie; dividida em subespécies que existiam
em certas regiões. Mas depois de conhecer melhor a história
da sua origem, concluiu-se não ser possível. De fato, trata-se
de duas espécies exatamente distintas, pertencentes ao gênero
dos chamarizes (serinus).
O canário silvestre escolhe paisagens abertas,
pomares e encostas cobertas de vegetação como sítios
prediletos para viver.
Em Fevereiro, e mais freqüentemente em Março,
começa a fazer o ninho. Habita também nos jardins de pequenas
vilas e cidades. Trata-se de um “pássaro de árvore”, como
o tentilhão. A técnica de construção de ninho
do canário é semelhante à do tentilhão, só
que o seu ninho é colocado na ramagem, orientado para fora, da mesma
maneira que o pintassilgo o faz. O macho e a fêmea distinguem-se
pela cor da plumagem (dimorfismo sexual), contudo, esta diferença
é irrelevante. O macho apresenta-se, no seu todo, mais cinzento,
sobressaindo o verde só em algumas partes (faixa dos olhos, ombros,
rabadilha, sendo mais esbatido no peito). Os machos mais velhos apresentam
um amarelo mais vivo na plumagem do que os pássaros jovens. O processo
de postura e choco é idêntico ao dos carduelinae, aparentados
com os pintassilgos: s fêmea choca os ovos ambos os pais participam
no desenvolvimento da cria. A sua preferência alimentar incide prioritariamente
sobre sementes e todo o tipo de verduras.
No que diz respeito ao comportamento, o canário
silvestre é parecido com o canário-da-montanha (serinus citrinellus).
São aves muito temperamentais, que apenas conseguem desenvolver
bem a sua vida familiar em aviários espaçosos.
A alimentação do canário que vive
em liberdade consiste em todos os tipos de sementes, principalmente sementes
de subasbustos de crucíferas e de flores compostas, bem como sementes
de certos tipos de couve, alface, serralhas e ainda sementes de morugem-branca,
tanchagem, poliganácea,e alguns tipos de dormideira. Os canários
gostam principalmente de comer as sementes de alpiste que se tornou parte
integrante de todos os tipos de alpiste de mistura sob o nome de alpiste.
Para além disso, estes pássaros silvestres
ingerem sementes de determinados tipos de painço e sementes de cana-de-açúcar.
Por isso, também foram designados pássaros do açúcar,
nome com que foram comercializados durante muito tempo após a sua
entrada na Espanha. Exceto por altura da ninhada, reúnem-se em bandos
múltiplos que voam para longe, como os pintassilgos no fim do Verão
e no Outono. A vida em bandos traz vantagens ao pássaro individual,
uma vez que é mais fácil viverem em bando.
Os canários silvestres são pássaros
para criadores amadores e profissionais. Não são fáceis
de cuidar e de fazer procriar como os canários domésticos.
A criação de carduelinae originais tornou-se, em1980, uma
parte integrante da avicultura. Os tentilhões originais são
criados anualmente por entusiastas europeus.
Dos conventos espanhóis para os palácios.
Embora os romanos conhecessem já o grupo de ilhas
a este de África, no Atlântico, e lhe tivessem dado o nome
de Canárias, devido ao grande número de cães que lá
viviam (latim: canis), a conquista foi dos espanhóis: as tomadas
tiveram lugar entre 1473 e 1496 e foram seguidas pela ocupação.
Pouco tempo depois dos espanhóis se instalarem nas ilhas, os marinheiros
entusiasmaram-se com os pequenos pássaros verdes, que se podiam
manter em gaiolas.
Rapidamente se domesticavam e cantavam uma melodia fresca
e agradável. Foram estas as razões que levaram os soldados
e os marinheiros a transportar os pequenos cantores emplumados para a sua
terra natal, para sentirem a sua alegria, mesmo depois das horas de serviço,
ou então para os oferecer às suas amadas, constituindo uma
prenda ou lembrança rara e preciosa. Os “pássaros de açúcar”,
como eram conhecidos, entraram na moda. Em pouco tempo, oferecer um animal
destes à sua amada tornou-se um sinal de boas maneiras. Nos círculos
da nobreza, simbolizava o luxo e as viagens à volta do mundo. A
fidalguia batia-se pelo seu estatuto, mandando fazer gaiolas de ouro, tão
valiosas quanto possível. Nessa altura, encontrava-se canários
em castelos e palácios, fato este que é transmitido pelas
pinturas dos retratistas e artistas da época.
Os marinheiros depressa descobriram que podiam fazer
um bom negócio com estes pequenos cantores e traziam cada vez mais
exemplares. Na região de Cádiz, uma pequena cidade portuária,
desenvolveu-se um centro de comercialização de canários.
Os mais cobiçados eram os machos pelo seu canto tão bonito.
Como a procura crescia drasticamente e o trânsito
de caravelas era irregular, tentou-se encontrar uma forma mais rápida
e segura de obter estas aves. Nos conventos, os monges tentavam domesticar
os canários. Foram bem sucedidos e, no decorrer dos anos, os pássaros,
originalmente silvestres, tornaram-se grandes companheiros do homem. É
aqui que começa a história do canário como animal
doméstico. Foi por trás dos muros dos conventos da Idade
Média que foi decidido o destino de uma espécie de ave que
viria a fazer companhia ao homem, como nenhuma outra tinha feito anteriormente.
Na Europa do Renascimento, o acaso e a sorte determinavam
o “destino deste animal doméstico”.
Voltar Página dos Artigos
Voltar Página Menu Artigos Outros Artigos
Voltar Página Inicial
Este artigo foi vizualizado 5201
vezes! - Desde 09/04/2008.
|