FUGINDO AS REGRAS
Revista Passarinheiros & CIA 47
Luiz Alberto Shimaoka
Médico Veterinário CRMVSP 6003
Arquivo Editado em 28 Jan 2011
Fique atento aos problemas que a postura crônica ou prolongada pode trazer à sua ave.
A postura crônica ou prolongada ocorre quando fêmeas sexualmente maturas fazem posturas seqüenciais com intervalo entre posturas muito próximas, ou seja, botam certo número de ovos, nem bem começam a chocar e fazem nova postura.
As posturas crônicas não são tão comuns em aves silvestres, mas muitos de nós já possuímos aves que criaram de modo normal e agora desenvolveram o hábito de posturas seqüenciais. Não chocam como antes, abandonam o ninho e logo em seguida fazem nova postura e assim sucessivamente. A causa do problema está relacionada a alterações hormonais destas fêmeas, pois a postura é determinada por um equilíbrio muito delicado de hormônios de ações sexuais (hipófise) e hipotalâmicos. O estímulo do crescimento de folículos se dá pela ação de um hormônio chamado de hormônio folículo estimulante (FSH) sobre o ovário, fazendo com que estes se desenvolvam. Após o seu pleno desenvolvimento, o folículo sofre a ação de outro hormônio associado ao FSH, o hormônio luteinizante (LH) e assim promovem a sua liberação ou ovulação no trato genital da fêmea, onde desenvolve até a formação completa do ovo, sendo então posto.
Devemos lembrar que a maioria das fêmeas possui somente o ovário esquerdo, sendo o direito ausente ou desprovido de evolução. A maturação do ovário se inicia através de um processo que chamamos de fotoperiodismo positivo, que nada mais é do que a sensibilização do organismo quando gradativamente ocorre o aumento do período de luz por dia, o que acontece com a primavera. Com os dias se tornando mais longos (fotoperiodismo positivo) ocorre a estimulação luminosa do organismo da ave por sensibilização do nervo óptico, que envia mensagem à glândula pineal (hipófise), fazendo com que o processo sexual "estimulatório" se inicie. A hipófise ativa o hipotálamo que começa a produzir fatores de liberação de gonadotrofinas (GnRH), que atua novamente na hipófise, fazendo com que ocorra a produção de hormônios que atuam na maturação dos folículos do ovário, até a sua liberação e formação do ovo .
O equilíbrio destes hormônios é muito delicado, sendo que quando um deles se eleva muito no organismo, automaticamente há um estímulo negativo para que cesse a sua produção. O exemplo mais fácil de visualizar é o que anteriormente foi explicado, ou seja: a hipófise estimula o hipotálamo na produção de GnRH e este estimula a própria hipófise na produção de hormônio FSH e LH. Já com a alta dos hormônios FSH e LH há a estimulação de forma negativa do hipotálamo para que pare de produzir GnRH, diminuindose assim a produção de FSH e LH. Ou seja, tanto um quanto o outro pode agir para que ocorra o aumento ou diminuição da sua produção hormonal.
Como vemos o desequilíbrio destes hormônios pode fazer com que ocorra um excesso de estímulo no ovário, levando a posturas mais freqüentes e irregulares. Várias mudanças podem favorecer o aparecimento do problema, podemos citar:
Alterações hormonais por excesso de estímulo sexual das fêmeas como: a presença de machos fogosos cantando do lado; fêmea "enfemeada" com o proprietário; sons de outras fêmeas pedindo gala; fêmeas com filhotes; entre outras;
Alimentação muito rica em cálcio, vitaminas e proteínas, favorecendo a produção de hormônios;
Excesso de estimulação luminosa;
Administração de hormônios exógenos (proprietário oferece ou efetua tratamento com o fornecimento de hormônios);
Outras causas e causas indefinidas.
Outros problemas que decorrem da postura crônica das aves são resultantes do próprio desgaste que a ave sofre com as posturas seqüenciais, pois perdem cálcio, vitaminas, proteínas, gorduras, açúcares e minerais diversos.
Podem assim desenvolver quadros de desnutrição, desgaste orgânico geral, ovos virados e ovos sem casca, entre outras situações decorrentes do excesso de oviposição (posturas).
O diagnóstico da postura crônica das aves é feito exclusivamente pelo próprio quadro de posturas seqüenciais. O tratamento se baseia em desestimular a fêmea a efetuar posturas seqüenciais.
Podemos: "enfraquecer" a alimentação: diminuir a fonte de cálcio; diminuir o período de luz por dia; mudar a ave de ambiente, retirando-a assim de perto dos machos, fêmeas com filhotes e fêmeas pedindo gala; não automedicar as aves; entre outras medidas.
A prevenção é incerta, pois nunca podemos prever que a ave vá desenvolver a doença. Por esse simples fato só podemos acompanhar a ave e se ocorrer posturas seqüenciais podemos afirmar que estamos diante de um quadro de postura crônica.
Em caso de dúvidas procure sempre o auxílio de um Médico Veterinário.
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